sábado, 20 de março de 2010

TUBARÃO, de Peter Benchley


Ahhh, como eu adoro histórias de animais devoradores de humanos. Para ser franco, compro qualquer tranqueira do gênero, pois mesmo quando não são lá essas coisas, ao menos costumam ser divertidas. Aliás, até já fiz uma resenha sobre uma obra no estilo, MEG, que ninguém quis comentar. Como sou insistente, aqui vai outro peixão para agitar sua banheira. Um esqualo mais realista dessa vez: Tubarão (Editora Record, várias edições), de Peter Benchley. Como é impossível falar do livro sem mencionar o icônico filme de Steven Spielberg, vai aparecer uma comparação ou outra no texto, ok?

A obra narra os insistentes ataques de um grande tubarão branco (o maior dos tubarões carnívoros) na costa de Amity, nos Estados Unidos (óóóóbvio). Assim como no filme, a história começa com o aterrador ataque do bichinho a uma bela jovem, que achou que nadar sozinha durante a madrugada era a melhor idéia do mundo. Mas ao contrário da adaptação cinematográfica, nós já "vemos" o predador logo nas primeiras linhas. É interessante lembrar que Steven Spielberg pretendia fazer o mesmo no filme, mostrando seu tubarão mecânico desde o início; no entanto, como a maldita máquina quebrava o tempo todo, ele foi obrigado a mudar o tom, investindo muito mais no suspense e no "não-visto" (mais sugerindo o monstro do que mostrando), para revelar o bichão apenas no terço final da história. O típico caso de uma limitação técnica que obrigou o cineasta a ser criativo, resultando em um filme muito melhor do que provavelmente teria sido.

Como o escritor não tinha limitações técnicas que atrapalhassem, seguiu por um caminho literário mais coerente: o de descrever as sensações, atitudes e detalhes zoológicos do bicho, tratando-o não apenas como uma grande ameaça, mas sim como um dos personagens da história. Então, quando a moçoila dá suas braçadas, compreendemos porque os movimentos na água atraem o tubarão, e chegamos quase a nos identificar com o bicharoco, sentindo o que ele sente e ficando com vontade de arrancar um naco daquela criatura estúpida que invadiu nosso habitat! Muuuito legal. Meio psicótico, mas muito legal! E esse primeiro ataque não dececpciona: se no filme, vimos uma loiraça nua (não vou discutir as óbvias vantagens do filme) sendo arrastada de um lado para outro com violência, aqui vemos (pequeno spoiler até o fim da linha, em letras verdes) a garota sentindo-se erguida na água por um grande volume que passa abaixo dela, o que obviamente a deixa apavorada. Então vem a pancada na perna e uma dor excruciante, e quando ela levanta o joelho e tenta apalpar o membro para conferir o quanto está ferida, encontra apenas um jato de líquido quente jorrando do toco da perna arrancada! OH MY GOD, que trecho fantástico!

E há muitas passagens ainda melhores durante a história, que vocês já devem conhecer: o chefe de polícia Brody investiga o caso e quer fechar a praia, mas as autoridades o convencem a mudar de idéia, pois aquilo seria um desastre para o turismo da cidade ("Nem sabemos se foi um tubarão, e se foi mesmo, ele já deve estar longe, blá blá blá"); é lógico que o monstrengo adquiriu gosto por carne humana, e resolve ficar pelas paragens para aproveitar mais algumas presas fáceis. Isso é, até que Brody se une com um oceanógrafo (Hooper) e um pescador alucinado (Quint), partindo em uma busca épica pela fera sanguinária. Uma busca que faz eco à Moby Dick, pois uma vez que o chefe Brody sente-se culpado pelas mortes que ocorreram por sua "culpa", ele está obcecado em eliminar a fera. O tubarão não levou sua perna, mas certamente arrancou um pedaço de sua alma (profundo isso, não? He he he).

O livro é bastante diferente do filme em vários aspectos: além de tratar o animal quase como um personagem, as situações e mortes são, na maioria, bem diferentes da adaptação cinematográfica; por exemplo, a obra não possui aquele final apoteótico do filme, que o autor achou absurdo de início, mas depois passou a gostar (e francamente, também gostei mais do desfecho do cinema). Além do mais, há uma subtrama erótica entre um personagem e a esposa de outro (não senhores, não vou dizer quem são :P), o que dá um tempero extra à trama - meio desnecessário e mal resolvido, mas não deixa de ser interessante. Portanto, se você está se perguntando "vale à pena ler o livro após ter visto o filme?" (ou vice-versa), a resposta é um retumbante SIM.

Aliás, esse livro é quase obrigatório para os fãs do horror gore, não apenas pelo suspense e pela sangueira em si, mas por ter sido o precursor do subgênero "animais assassinos", que gerou uma série de imitadores em seguida (sim, sim, esses livros que eu já falei que adoro, rsrs). Ah, até o próprio autor se "auto-plagiou" em outra obra, o excelente A Besta (aguardem a resenha para o futuro).

O livro foi escrito em uma época diferente da nossa, e o autor sempre afirmou que foi fiel às pesquisas que realizou. Anos depois, com o avanço nas pesquisas sobre os hábitos dos tubarões, ele percebeu que se baseou em concepções tradicionais e lugares comuns equivocados, fazendo com que transformasse um animal real em um monstro quase mítico. O detalhe triste disso tudo é que a imagem da criatura ficou bastante negativa após o lançamento do livro e do filme, criando um monstro que habita até hoje o imaginário popular (duvido que algum de vocês não pense em tubarões quanto está nadando na praia, as vezes até lembrando da arrepiante trilha sonora de quase uma nota só). Isso de certa forma serviu de justificativa para que milhares dessas fascinantes criaturas fossem exterminadas sem critérios, mas enfim, também sabemos que o homem não precisa de muita justificativa para matar alguma coisa, não é verdade? Só para fechar esse assunto, Peter Benchley sentiu-se culpado por ter escrito o livro, e lutou pela preservação desses animais até o fim de sua vida.

Enfim, descontando o desastre ecológico que gerou após seu lançamento, Tubarão não deixa de ser um clássico do terror e do suspense. Se ainda não leu, é fácil de encontrar em qualquer sebo. Compre para ler nas férias, de preferência quando estiver na praia. Isso vai dar um sabor diferente para suas brincadeiras no mar ;)

Abraços, boa leitura!

8 comentários:

  1. Mario nem sei o que dizer...
    Sinceramente estou com vergonha de mim mesma sabe... A questão é que você sempre foi muito legal com a gente e eu nem vi o comentario feito a vinte dias trás... ai hj me deparei com ele.

    Bem me desculpe se ainda der tempo de divulgar me avise, eu to no ano de vestibualar por isso o blg ta meio abandonado mas faço quastão de ajudar da melhor maneira possivel

    Você merece todos os premios ^^
    BjOs

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  2. Ow, Flávia, imagina, não precisa se desculpar não! Sem problema, eu desisti de fazer campanha pelo concurso há alguns dias, rsrsrs. E ano de vestibular é fogo mesmo, se concentra ae que é melhor, viu? Bjão!

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  3. Muito bom o livro mesmo!
    Eu estou com Do fundo do mar.
    Mas ainda não li , pelo jeito segue a mesma linha deste!
    Era impossivel ler o livro sem associar os personagens com os do filme.

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  4. Linda resenha Mário, seus textos são maravilhosos, eu não li o livro mas vou encomendar na estante virtual com certeza, afinal é um clássico e não podemos deixar de ter na nossa biblioteca.

    []s.

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  5. Opa, "maravilhosos"? Rsrs, foi o maior elogio que ganhei por aqui, valeu! Abraço!

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  6. Oi, Mario!

    Eu li e reli.
    Livrinho "bão" mesmo - a descrição do ataque logo no início é antológica para mim.
    Nunca esqueci e como li o livro primeiro e só assisti o filme bem depois as comparações foram inevitáveis.
    Ainda assim só pelo fato de ter um ator que aprecio muito valeu a pena.
    Ter lido e assistido "Jaws" e "Tubarão" respectivamente, foi demais.
    Hummmm...sinto vontade de ler o livro de novo...

    Beijos mil, Mario!!!

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  7. Bom mesmo, né Gi? Também li duas vezes, rsrs. Abraços!

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  8. O Livro parece MARAVILHOSO de se ler, adoraria tê-lo, mas o problema é encontrar, mesmo em alfarrábios é dificilimo achar, pelo menos na cidade onde moro. Adoraria que ainda vendesem nas lojas.

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