segunda-feira, 29 de junho de 2009

BEIJO, de Roald Dahl (Crítica de L.F. Riesemberg)


Obs. Esta crítica não foi feita por mim, mas pelo colega L. F. Riesemberg (confira o blog dele clicando aqui). Eu estava meio reticente em colocar críticas alheias, mas essa aqui foi tão boa, sobre um livro que eu nunca tinha ouvido falar (e vou correr atrás), que acho que vou começar a aceitar contribuições (pois já vi que isso pode ser útil para minha pessoa, rsrs). Mas atenção, toda crítica ou resenha vai passar pelo meu crivo, e se não estiver legal, não será publicada (mas eventualmente, podemos fazer correções, remanejar, etc). Enfim, quem quiser tentar a sorte e participar com críticas e resenhas (sem compromisso e sem ressentimentos, ok?), é só mandar sua contribuição ao e-mail escritoresdeterror@gmail.com (mandar também uma imagem do livro resenhado). E sem mais, a crítica que também vai te deixar morrendo de vontade de ler o livro BEIJO,!

BEIJO, (Roald Dahl)

Talvez o escritor galês Roald Dahl (1916-1990) seja mais conhecido pelos seus livros infantis, como A Fantástica Fábrica de Chocolate. Mesmo que você não tenha lido esta obra, provavelmente já assistiu a uma das duas adaptações cinematográficas, protagonizadas por Gene Wilder (versão de 1971) ou Johnny Depp (de 2005), e talvez tenha notado um clima demasiado irônico e dark. Afinal, não é sempre que vemos um filme infantil com crianças sendo jogadas em dutos de lixo ou então infladas como uma bola de chiclete.

Acontece que os contos infantis de Roald Dahl são povoados com estes elementos que podem até assustar um adulto, mas que as crianças adoram (Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, é uma história de terror – e na versão original o Lobo devora a menina!). Dahl, inclusive, é o criador dos Gremlins, aquelas criaturinhas infernais que vimos nos dois filmes produzidos por Steven Spielberg.

Pois, bem. Imagine se um autor que tem essas ideias um tanto bizarras resolvesse escrever contos de temática adulta. Não precisa mais imaginar: ele escreveu! Dahl tem cerca de cinquenta short stories publicadas em cinco livros, todas de uma imaginação admirável, diferentes de tudo o que você possa pensar. Essas coletâneas são Kiss Kiss; Over To You; Switch Bitch; Someone Like You e Eight Further Tales of the Unexpected. Infelizmente apenas o primeiro foi lançado no Brasil, com o título Beijo Com Beijo (editora Marco Zero, 1989) e depois foi reeditado e ganhou nova tradução como Beijo, (assim com esta vírgula mesmo, editora Barracuda, 2007). Nele há onze contos adultos, maravilhosos e assustadoramente inteligentes.

Para se ter uma noção, é de Dahl o conto que deu origem àquele episódio de Além da Imaginação de roer as unhas, em que um rapaz aposta o seu mindinho com um velho milionário: caso seu isqueiro acenda dez vezes seguidas, o cara ganha um Cadillac novinho – caso falhe, ele perde o dedo (Quentin Tarantino fez uma paródia no filme Grande Hotel, com resultado mediano). Trata-se do conto The Man From The South, do livro Someone Like You.

Beijo, (ou Beijo Com Beijo, tanto faz) traz, em sua maioria, contos cujos protagonistas são pessoas comuns que encontram uma ideia absurdamente fantástica para se darem bem. Por exemplo, em O Prazer do Pastor, um comerciante de móveis raros fantasia-se de padre e usa a ignorância de fazendeiros falidos para adquirir, a preço de banana, uma relíquia de valor inestimável. Já em O Casaco do Coronel, uma esposa adúltera bola um plano infalível para poder ficar com um caríssimo casaco de pele de vison que ganhou do amante, sem que o marido desconfie da traição. Nem preciso dizer que, no fim de cada história, essas pessoas sentirão muito mais do que o próprio veneno: serão sabotadas pela própria inteligência, caindo em uma armadilha muito pior do que aquelas que armaram. E esses finais são tão surpreendentes que eu me pegava gargalhando alto durante vários trechos do livro (o que, por si só, já é algo bizarro – quantas vezes você já riu para valer lendo uma história de suspense ou terror?).

É claro que nem todos os contos aqui reunidos seguem esse padrão. Em Geleia Real, por exemplo, ficamos sabendo o que acontece quando um bebê que não quer mamar passa a ser alimentado com esse curioso e nutritivo produto das abelhas. Willian & Mary beira mais o fantástico, quando uma viúva descobre que o cérebro do marido continua vivo em um pote na casa do amigo cientista. Mas talvez o destaque seja mesmo Porcos, onde Dahl faz uma surpreendente inversão dos tradicionais contos infantis e cria uma fábula satírica, cruel e grotesca sobre um menino criado na fazenda, longe da corrupção da cidade grande. Pode-se dizer, sem exageros, que este é um dos momentos de maior humor negro da literatura mundial (além de ser uma bela crítica ao consumo de carne – ao menos na minha interpretação).

Enfim, se você ainda não conhece a obra de Roald Dahl, faça isso correndo! Seus livros infantis são ótimos, mas os contos adultos são obras-primas do insólito, que dificilmente sairão de sua cabeça.

L. F. Riesemberg

sábado, 27 de junho de 2009

A ÚLTIMA VAMPIRA, de Whitley Strieber


Pois muito bem... Whitley Strieber escreveu seu maravilhoso Fome de Viver (ver post anterior) em 1981; o livro fez sucesso, virou filme, etc e tal. Era uma história perfeita e fechada, que simplesmente não deixava margem para qualquer continuação. Porém, no ano de 2001, eis que surge a continuação de Fome de Viver: a obra A Última Vampira (Ediouro, 2002).

Embora nada possa afirmar sobre a situação financeira do escritor lá pelos idos de 2000, imagino que ele devia estar passando por sérias dificuldades financeiras. Só isso explica a existência deste livro lamentável, cujo único objetivo parece ter sido faturar alguns trocados.

Comecemos pelo título (The last vampire, no original); enquanto no primeiro livro, a palavra "vampiro" não aparecia uma vez sequer, aqui a palavra já vem no nome da obra. Parece um detalhe bobo, e não tenho absolutamente nada contra o uso da palavra "vampiro" nos livros. Mas, se formos contextualizar a utilização da palavra neste livro, podemos verificar os seguinte: enquanto sua ausência em Fome de Viver ressaltava a elegância e a sutileza da história, em A Última Vampira, seu uso evidencia outro tipo de sutileza: a sutileza de um Tiranossauro Rex correndo por uma loja de porcelana.

Elegância é algo que você não irá encontrar nessa sequência: a história narra as ações de um grupo secreto de policiais que extermina vampiros (sim, isso mesmo) e são liderados por Paul Ward, um ex-agente da CIA. Tudo vai indo muito bem, até que ele se depara com a bela Miriam Blaylock; a partir daí, começa o velho jogo de gato e rato, com os dois se envolvendo, etc e tal. Sim, a palavra que melhor define tudo é "clichê". Embora Miriam seja uma mera sombra da criatura poderosa e apaixonante do livro anterior, ainda é inaceitável o seu interesse por um personagem totalmente desprovido de carisma como Paul.

Um detalhe bem chato para os fãs de Fome de Viver é que o autor simplesmente ignora alguns aspectos da história anterior; assim, uma personagem do primeiro livro é ressuscitada de maneira arbitrária, negando (e praticamente destruindo) o perfeito desfecho da obra de 1981.

O livro segue sem qualquer surpresa, inovação ou passagem digna de nota. É tão ruim, tão diferente do primeiro, que chego a pensar se Whitley Strieber não contratou um "escritor fantasma" para produzir o livro a toque de caixa. Bem, bem, acho que nunca saberemos. O que eu sei é o seguinte: A Última Vampira é uma história estilo "sessão da tarde", que talvez até sirva de diversão descompromissada para aqueles que não leram Fome de Viver. Porém, para aqueles que leram, isso é muito, MUITO pouco, e a decepção é inevitável. Ah, e enquanto o final de Fome de Viver era aterrador por seus próprios méritos de livro de horror, o desfecho de A Última Vampira é aterrador porque dá margem para uma continuação! Cruz Credo!

Minha dica? Compre Fome de Viver e passe longe de A Última Vampira, pois é uma daquelas continuações com efeito retroativo, que chegam a tirar o brilho da obra original (assim como a nova trilogia de Star Wars, as continuações de Jurassic Park, etc). Ah, e não esqueça de fazer um pedido para o próximo morcego que passar voando por sua janela, pedindo que Whitley Strieber tenha juntado grana suficiente para não ter que continuar pagando esses micos.

Abraços!

FOME DE VIVER, de Whitley Strieber


Fome de Viver (Record). Talvez você já tenha ouvido falar desse título antes, mas é mais provável que tenha sido através do filme com Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon (mais informações aqui). Não assisti o filme, sei apenas que divide opiniões. Mas enfim, aqui o assunto é livros, então vamos aos comentários sobre a obra em questão.

Este é, sem dúvida, um dos melhores livros de vampiros que já li. O grande charme da história, pra começar, é a sutileza; sabem quantas vezes a palavra "vampiro" aparece no livro inteiro? Nenhuma! Mas o que eles são, fica claro desde o início. A ausência da palavra não é, de forma alguma, uma manobra para "mascarar" o tema (como se o autor tivesse vergonha do que está escrevendo ou algo assim), mas sim uma maneira de abordar o mito com delicadeza.

A trama é basicamente a seguinte: um casal de vampiros (Miriam Blaylock e John Blaylock) aproveita a vida eterna, sugando suas vítimas e vivendo na luxúria, sem preocupações aparentes; porém, aos poucos John é atacado por uma misteriosa doença, que vai degenerando seu corpo; em desespero, ele procura a ajuda da doutora Sarah, especialista em envelhecimento; já Miriam, percebendo o mal que aflige seu companheiro, resolve ser mais prática, e vai em busca de um novo amante, que deve ser inteligente, determinado e com fome de viver, independente do seu sexo.

O livro é de um erotismo poético e avassalador, com passagens de esquentar o sangue de qualquer morto-vivo que se aventure por suas páginas; poucas vezes, vi uma personagem tão excitante, inteligente e mortal quanto Miriam, minha vampira favorita de todos os tempos; ela esconde um segredo que vai se revelando aos poucos, e a verdade é aterradora.

Após uma certa saturação nos livros de vampiros e em tempos de Crepúsculo, talvez você esteja lendo este post com ceticismo, pois não deve achar que os vampiros são as criaturas mais assustadoras da literatura fantástica. Mas acredita, Fome de Viver é um livro de vampiros que realmente funciona como terror. E o final é simplesmente uma obra prima do macabro.

Então, caso ainda não conheça, fica a sugestão. Fome de Viver foi publicado pela editora Record, lá pelos anos 80, porém é fácil encontrá-lo em sebos. Ah, o livro também teve uma continuação, mas isso é matéria para outro post... que vai ser colocado ainda hoje! Rsrs.

Até depois!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Conto meu na coletânea Draculea - O Livro Secreto dos Vampiros


Permitam-me abrir um (quase) off e vender um pouco do meu peixe.

Pretendia esperar mais tempo antes de fazer esse anúncio, mas já que a propaganda é a alma do negócio, é melhor começar a divulgação já! Tenho a honra de anunciar que um conto meu faz parte da coletânea Draculea - O Livro Secreto dos Vampiros. São histórias que abordam os segredos e mistérios desses fascinantes personagens, com contos que procuram ao máximo fugir dos clichês e convenções do gênero. Já li a obra e garanto, o nível está excelente! O livro sai em Agosto, e quem se interessar, vou estar vendendo aqui pela Biblioteca Mal-Assombrada (e pra quem quiser, mando autografado! Rsrs).

A foto que ilustra essa notícia é um Wallpaper feito pelo Adriano Siqueira, escritor e especialista em vampiros, com texto do escritor Danny Marks (é uma história com os títulos de todos os contos do livro!). Caso tenham curiosidade, o meu conto se chama Tormento.

E por enquanto é só! Abraços, mais notícias em breve!

domingo, 21 de junho de 2009

VISÕES DA NOITE - Histórias de Terror Sarcástico, de Ambrose Bierce

Já é lugar-comum afirmar que a vida do escritor Ambrose Bierce foi tão (ou até mais) misteriosa do que suas fantásticas histórias. Herói de guerra e jornalista mordaz, escrevia o que bem entendia, sempre com inteligência e fina ironia. Isso não contribuiu para que tivesse muitos amigos, mas duvido que tenha se importado com isso. Sua obra mais conhecida é O Dicionário do Diabo, onde arrasa com todos os aspectos da sociedade de A até Z (frases desse livro são presença obrigatória naquelas antologias de frases irônicas, como "O Melhor do Mau Humor"). Assim como em muitos dos seus contos, onde pessoas desapareciam sem deixar vestígios, Ambrose Bierce desapareceu no México por volta de 1913, aos 71 anos. Alguns dizem que morreu de causas naturais, outros acham que foi suicídio, enquanto outros afirmam que foi fuzilado após insultar Pancho Villa. Essa última morte parece mais adequada.

Enfim, parece estranho que um adepto da ironia tenha se interessado por narrativas com temática sobrenatural (afinal, pessoas de temperamento sarcástico costumam ser bastante céticas), mas foi o que aconteceu, para nossa sorte. Seus contos figuram facilmente em qualquer antologia do gênero, e juntamente com Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft, ele é considerado um dos maiores expoentes norte-americanos do Terror.

O livro Visões da Noite - Histórias de Terror Sarcástico (Editora Record, 1999, organização de Heloísa Seixas) trás alguns dos melhores contos de Bierce. Não se assustem com a palavra "sarcástico" no subtítulo, que pode nos deixar temerosos de que o terror fique em segundo plano: na verdade, as histórias desse livro são algumas das mais arrepiantes já escritas! Muitos contos são narrativas curtíssimas, reunidas juntas sob um mesmo título, já que o tema é basicamente o mesmo.

"Cruzando o Umbral", por exemplo, narra desaparecimentos misteriosos, de pessoas que literalmente desvaneceram no ar; a narrativa é escrita em tom jornalístico (algo comum em seus contos), o que provoca uma estranha atmosfera de realidade, a sensação de que aquilo poderia mesmo ter acontecido. Não é a toa que algumas dessas histórias chegaram a ser narradas por jornais como fatos verdadeiros! Dessa forma, várias lendas urbanas nasceram da imaginação do escritor, que deve ter rido muito com isso (e riria até hoje, sabendo que muitas dessas lendas ainda perduram).

Em "Casas Espectrais", há uma narrativa aterrorizante sobre um homem que decide entrar em uma casa supostamente mal-assombrada. Provavelmente, uma das histórias mais assustadoras a utilizar este tema. "Aparições" e "Um Incidente na Ponte de Owl Creek", por sua vez, trazem encontros com fantasmas, em narrativas que serviram de influência para muitas outras que vieram depois. "Visões da noite", conjunto de contos que dá título ao livro, narra alguns pesadelos do escritor, sonhos que seriam capazes de fazer você acordar suando frio.

Também há contos mais longos: "O Ambiente Adequado" narra a história de um homem que, para entrar no clima adequado de um conto de horror, vai ler a história no lugar mais assustador possível; em "Os Olhos da Pantera", um homem rústico se vê envolvido com... bem, digamos que o título não é figurativo; "Um dos Gêmeos" aborda esse tema tão comum, mas que dá margem à excelentes histórias de horror.

Em resumo, Visões da Noite é mais uma obra obrigatória para os fãs do gênero. Se tiver a chance, compre sem medo. Ainda mais porque medo é algo que não vai faltar depois.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Terrorzine 10

Para quem não sabe, o Terrorzine é uma revista eletrônica editada por Ademir Pascale, que trás minicontos de terror e suspense. São histórias curtas, mas que dizem muito mais do que suas poucas linhas parecem mostrar (de fato, muitas histórias de 15 linhas têm muito mais conteúdo que diversas histórias longas que lemos por aí). Caso não conheça, é só clicar no link abaixo (e caso queira saber como publicar no Terrorzine, você encontra as informações na própria revista):

http://www.cranik.com/terrorzine10.pdf

Abraços!

OBRAS PRIMAS DO CONTO FANTÁSTICO, vários autores


O título não mente: Obras Primas do Conto Fantástico, da Livraria Martins Editora (1961), realmente entrega aquilo que promete: 25 contos maravilhosos, que transitam entre o terror e o realismo fantástico em suas 376 páginas. O livro foi organizado por Jacob Penteado, que também escreve a introdução.

Nessa obra, atualmente encontrada apenas em sebos (ou, mais facilmente, em sebos e lojas virtuais), encontramos verdadeiras preciosidades da literatura fantástica. Vamos falar de algumas.

O livro abre com Avatar, do magnífico Teófilo Gautier (ou originalmente, Teóphile Gautier), sobre uma estranha doença que acomete o pobre Otávio de Saville; em seguida, já vem outra história tão boa quanto, O Espelho, de Gastão Cruls, onde um marido aconselha a esposa a não comprar um espelho de origem duvidosa, e obviamente, não é atendido; em Um Louco?, do grandioso Guy de Maupassant, vemos a triste história de Jacques Parent, aparentemente torturado por fenômenos sobrenaturais (ou não, vai saber... é uma dúvida comum nas histórias do Maupassant, rs); em Metempsicose, de Walter Poliseno, a velha história da troca de corpos é abordada por um ângulo muito interessante, ambientado durante uma exploração arqueológica numa tumba egípcia. Sim, Teóphile Gautier e Guy de Maupassant no mesmo livro, e falamos apenas dos quatro primeiros contos!


Em seguida, temos a assustadora (mesmo) história Os Ratos do Cemitério, de Henry Kuttner. Se você for claustrofóbico, ou tiver pavor de ratos (ou ambos), esse conto vai te deixar com o coração acelerado. Que diabos, mesmo que você não sinta essas fobias, vai ficar com o coração acelerado!

Não vou comentar todas as histórias seguintes, daria muito trabalho (e acreditem ou não, tenho mais o que fazer), mas vou falar um pouco sobre outras que são ótimas: em Camarote 105, Beliche de Cima, de Marion Crawford, um viajante marítimo desconfia que seu companheiro de cabine talvez não seja exatamente humano. Logo depois desse, vem o conto A Mão do Macaco, de William Wymark Jacobs, simplesmente a melhor história de "horror sutil" de todos os tempos (Você duvida? Então clique neste link e puxe uma versão em e-book, criatura insolente!); por fim, o livro fecha com Bugio Moqueado, de um escritor nacional mais ou menos conhecido, chamado Monteiro Lobato. Quem se apavorou com O Saci (da série Sítio do Pica-Pau Amarelo), durante a infância, sabe do que o homem era capaz.

Comentei alguns dos melhores, mas leia a lista completa de contos e autores abaixo, para ver o time que o cara reuniu para essa obra-prima.

Teófilo Gautier - Avatar.
Gastão Cruls - O espelho.
Guy de Maupassant - Um louco?
Walter Poliseno - Métempsicose.
Henry Kuttner - Os ratos do cemitério.
Afonso Schmidt - Delírio.
Victor Hugo - O diabo maltrapilho.
Conan Doyle - A mão do hindu.
Matteo Bandello - O macaco travesso.
Afonso Arinos - Uma noite sinistra.
Alexandre Pushkin - O recoveiro.
Jorge William Curtis - Os óculos de Titbottom.
Marion Crawford - Camarote 105, beliche de cima.
William Wymark Jacobs - A mão do macaco.
Anatole France - A missa das sombras.
Herbert George Wells (H.G.Wells) - O fantasma inexperiente.
Luigi Pirandello - A senhora Frola e o senhor Ponza.
Villiers de L'Isle Adam - A experiência do doutor Velpeau.
Jack London - O rei dos leprosos.
Jean Lorrain - A máscara vazia.
Somerset Maugham - Encontro em Samarra.
Leónidas Andreyeff - A mentira.
Giovanni Papini - O que o diabo me contou.
Viriato Correa - A ficha n.º 20.003.
Edgar Allan Poe - William Wilson.
Charles Baudelaire - O jogador generoso.
Monteiro Lobato - Bugio Moqueado.

Se você ainda não tem, corra ao sebo procurar (ou então clique nesse link, que vai facilitar sua vida), pois esse livro não pode faltar na biblioteca de um aficcionado por terror e literatura fantástica em geral.

E é isso por hoje, leitores. Abraços, até breve!

O SUPERSTICIOSO, de R.L.Stine

Você provavelmente já deve ter ouvido falar desse escritor, ou ao menos deve ter visto uma de suas obras nas prateleiras das livrarias, principalmente na estante de Infanto-Juvenis. R.L.Stine é autor da famosa série de livros de "terror para crianças" chamada Goseebumps, já publicada no Brasil pela Editora Abril, e atualmente publicada pela Editora Fundamento. Esses livros foram inclusive adaptados para um seriado de televisão, que até onde eu sei, ainda passa no canal Jetix (antigo Fox Kids). Depois disso, o escritor ainda escreveu as séries Rua do Medo e A Hora do Arrepio, publicados pela editora Rocco, mantendo o mesmo espírito da série anterior.

Li alguns Goseebumps, aqueles que foram publicados pela Abril há alguns anos atrás, e confesso que gostei! Não achei assustadores, afinal, são escritos para um público alvo bem mais novo; no entanto, eu ficava surpreso com os desfechos das histórias, que muitas vezes fugiam do convencional "final feliz" (um dos livros, que se chamava A Máscara Monstruosa, teve um final que me fez pensar "não acredito que um livro infantil terminou de forma tão sinistra!!!"). É claro que o fato da minha irmã ter comprado os livros, e eles serem curtíssimos, me animava a lê-los, sempre no espírito "puxa, eu teria adorado ler isso quando era criança". Enfim, depois de muito me explicar (sei lá se convenci alguém, rs), posso dizer o seguinte: as coisas que o cara escreve não fazem minha cabeça, mas eu o respeito. Ele encontrou seu nicho, e soube como aproveitar.

Por isso, foi uma surpresa quando encontrei, há alguns anos, um livro de temática adulta com o nome R.L.Stine na capa. A obra se chamava O Supersticioso, e, embora tenha ficado reticente de início, a curiosidade acabou vencendo, e comprei o livro.

Pois é, maldita curiosidade.

Para quem conhece a escrita do sujeito, é impossível não pensar que a idéia do cara para escrever O Supersticioso surgiu assim: lá estava ele, pensando na história do próximo Rua do Medo (ou Hora do Arrepio, não sei qual ele escreve atualmente), e de repente teve uma idéia que parecia fantástica; porém, havia um problema bem problemático e problematoso: para a história funcionar, seria preciso abordar personagens adultos, enquanto suas séries infanto-juvenis sempre abordaram crianças ou adolescentes. Além disso, precisaria haver sexo; não sexo gratuito ou pelo simples fato de escrever cenas picantes, mas sim para a própria história funcionar. Eis que o escritor resolveu "ok, essa é minha chance de escrever um livro adulto". E como diria a bruxa do desenho do Pica-Pau, quando tentava fazer sua vassoura funcionar: "e lá vamos nós... Lá vamos nós...".

A trama aborda o retorno da protagonista Sara Morgan ao campus da universidade onde se formou, que fica numa cidadezinha tranquila da Pensilvânia (e não Transilvânia!). Aparentemente, abandonou seu excelente emprego em Nova York para prestar uma pós-graduação, no entanto, a vontade de fugir do namorado rico e potencialmente psicótico parece ter contribuido para essa decisão estapafúrdia. Então, em meio às estranhas mortes de estudantes que estão ocorrendo no lugar, ela se apaixona pelo professor de folclore Liam O'Connor, que possui uma excêntrica obsessão por superstições. Vários outros personagens vão surgindo no decorrer da história, que vai dando pistas (muitas vezes falsas) sobre a identidade do assassino que está assombrando a faculdade.

O Supersticioso é um livro adulto escrito por um autor infanto-juvenil que parece ser exatamente isso: um livro adulto escrito por um autor infanto-juveni. Conheço muitos autores que transitam calmamente entre os dois públicos, escrevendo obras competentes em ambas as categorias, contudo, não parece ser o caso de R.L.Stine.

A história, que caberia melhor num livro curto ou até mesmo em um conto, se estende por 391 páginas torturantes. É claro que há coisas que se aproveitam. O autor escreve bem, e não tem trama ridícula que tire esse mérito dele. A trama até começa de forma instigante, mas após uma rápida corrida de 100 metros rápidos, começa a se arrastar, mostrando personagens desinteressantes, cenas de sexo desajeitadas e explicações estapafúrdias que só fariam sentindo em um livro da série Goseebumps mesmo. Não quero entregar nada (afinal, sempre estimulo as pessoas a não deixarem de ler alguma coisa só por causa de críticas negativas), mas a explicação para as mortes é tão absurda, tão incoerente, tão... boba, que é quase um insulto. Além disso, há uma sub-trama envolvendo os policiais do lugar, que é terrívelmente chata e inútil; os incompetentes ficam mais perdidos do que cego em labirinto, e ao invés de acrescentar algo à história, ficam apenas se lamentando por não fazerem idéia do que está acontecendo (e no começo de cada sub-capítulo envolvendo essa trupe, eu já pensava "que saco, não acredito que vou ter que ler sobre esses estúpidos de novo). E para fechar com chave de latão, o livro termina com um final "surpresa" que o leitor já adivinhou há várias páginas atrás.

Em resumo, caso você sinta a mesma curiosidade que eu senti, de saber como o autor se saiu em um livro para adultos, olhe para o vulto do gato preto na (bela) capa e lembre do velho ditado que envolve felinos e curiosidade. Ou então, compre algum exemplar de uma das séries infanto-juvenis do escritor. Vai ser mais barato, você vai ler mais rápido, e ainda poderá entregar o livro para seu filho ou sobrinho se divertir.

Abraços!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A TORRE NEGRA, de Frodo Oliveira


Frodo Oliveira (por favor, sem piadas com hobbits, ok? rs) nasceu em Recife, mas reside há mais de 20 anos no Rio de Janeiro. Comerciário, editor da Multifoco e acadêmico de Letras, Frodo já pubicou o livro Extrema Perfeição (Corifeu, 2007) e trabalhos nas antologias Noctâmbulos (2007) e Caminhos do Medo (2008), ambos da editora Andross, Solarim, pela Multifoco, além de ter participado da Antologia Poética ano 3, pela Scortecci Editora. Seu segundo livro solo e tema do presente post, A Torre Negra (Multifoco, 2008), é uma coletânea de contos de terror. Mas não qualquer terror, e sim um mais específico: o terror psicológico, do dia a dia.

Posso estar sendo simplista em definir o tema do livro dessa forma, pois muitos contos do talentoso autor são difíceis de encaixar em qualquer categoria. Alguns parecem pequenas crônicas sinistras, algo como um "Luiz Fernando Veríssimo do mal" (isso é um elogio! Rsrs), enquanto outras histórias resvalam no realismo fantástico, flertando com o absurdo e o impossível. Das 16 narrativas presentes na obra, podemos afirmar que apenas duas são realmente sobrenaturais, enquanto outras deixam na dúvida: o fantástico pode ter acontecido apenas na mente dos personagens, que projetam seus temores e desejos no mundo exterior. O monstro aqui é o monstro humano.

Vou comentar alguns contos: Cinzas, uma tocante história sobre o difícil relacionamento entre um pai e sua obstinada filha, abre o livro. Se isso serve de crítica, acho que esse conto deveria ter sido deixado para depois, pois quem ler essa pequena obra prima ficará com altas espectativas pelo resto do livro. Não estou falando que o resto do livro é ruim (o livro é ótimo), acontece apenas que esse conto é o melhor de todos (ao menos para mim); e ler ele assim, logo de cara, pode fazer (por comparação) os outros contos parecerem menos bons do que são realmente! Pois então fica a dica, caso você compre o livro: deixe esse conto por último (acho que posso estar criando expectativa demais pra esse conto, então, na verdade, faça o que quiser, rs).

Death Story e Diário Eletrônico de uma Paixão Platônica seguram bem o ritmo, abordando o amor e a paixão de uma forma que você nunca leria em um folhetim romântico. Já Maxwell parece ser apenas uma carta de amor do escritor para... bem, não posso falar, mas só digo que não sou muito fã do autor deixar suas preferências tão explícitas em seus contos. Sei lá, isso me distraii, acho que são poucos os escritores que conseguem abordar suas preferências (de músicas, livros, filmes, games, etc) nas histórias e ainda soarem com naturalidade (Stephen King é um dos poucos). Mas entendo o Frodo, é difícil não mencionar as coisas que são de nossa preferência (faço isso direto), mesmo assim, acho que é preciso ser mais sutil nesses pontos, coisa que ele intencionalmente não foi. Portanto, não tinha como eu gostar dessa história, já que vai contra minhas preferências. Coisa pessoal mesmo.

Em Morrer de Amor, ficamos na dúvida já mencionada antes: aquilo está acontecendo ou não? A única certeza no final da leitura é que o conto é excelente.

Pequeno Tesouro é outra "crônica sinistra", abordando o tema do racismo, da intolerância, da maldade inerente ao ser-humano... ou seria resultado do meio? Frodo não responde, mas lança a dúvida no ar. Muito legal também, outra das minhas favoritas.

Pra Você Viver Mais, novamente, traz outra preferência do autor de forma escancarada. A história me pareceu excessivamente melodramática. Achei que aqui, houve excessivo esforço em fazer algo emocionante, coisa que a história Cinzas conseguiu fazer com naturalidade. Mas isso é opinião pessoal, e não duvido que muita gente vá achar esse conto o melhor do livro.

Reminiscências vem logo depois, pra não deixar a peteca cair. É um daqueles contos ótimos, mas que simplesmente não dá pra dizer muita coisa sem entregar. Já Segredos apela pra uma narrativa fora de ordem para manter a curiosidade, e consegue. Só achei desnecessária a lista final, mostrando a verdadeira ordem dos mini-capítulos. Me pareceu um mágico explicando o truque depois de ter feito um número legal.

A Torre Negra é a história mais longa, e onde a pesquisa histórica fica bem evidente. Mesmo assim, o autor consegue passar as informações sem didatismo, com naturalidade exemplar, um pano de fundo para uma história sobre dor, arrependimento, luxúria e entrega. Ao final da história, ficamos pensando se não teriamos a mesma reação do protagonista, naquela terrível situação. É um dos dois contos com temática claramente sobrenatural (o outro, não posso dizer qual é, rs).

Em Um Pulo em Casa, onde o autor investe em um aspecto que pode até ser considerado clichê, mas ainda assim, é bastante eficiente. Por fim, O Viajante é uma história de viagem temporal, meio confusa e difícil de seguir, mas o final compensa as falhas... digo, compensou para mim, mas creio que vai ter gente que vai odiar o desfecho dessa história. Mas em um livro com uma variação tão grande de temáticas, seria mesmo muito difícil gostar de tudo, no entanto, pela qualidade da obra, é muito fácil gostar da grande maioria. E é isso, fica mais essa recomendação de leitura.

O livro pode ser comprado através do primeiro link abaixo.

Links:

A Torre Negra na Editora Multifoco

Blog do Autor

Entrevista

Abraços, até mais!

RELAÇÕES DE SANGUE, de Martha Argel


Descrever o vasto currículo da escritora e bióloga Martha Argel é algo que meus dedinhos com LER não vão permitir neste momento, então vou citar apenas os nomes dos livros já publicados da autora, que juntamente com Giulia Moon, é uma das minhas favoritas. Seus livros são o romance Relações de sangue (Novo Século, 2002), as coletâneas Contos Improváveis (Writers, 2000), O Vampiro de Cada Um (edição da autora, 2003) e O Livro dos Contos Enfeitiçados (Landy, 2006). Também organizou a coletânea Lugar de Mulher é na Cozinha (Writers, 2000), participou da antologia Amor Vampiro (Giz Editorial, 2007) e é co-editora do FicZine e seus contos já apareceram em jornais, revistas, zines e sites. Está para publicar um novo romance, chamado O Vampiro da Mata Atlântica, pela editora Idea.

Agora, vamos falar um pouco sobre seu romance já publicado, Relações de Sangue.

Relações de Sangue é o primeiro capítulo de uma trilogia, que mostra o envolvimento de uma mortal (Clara) com vampiros, em especial a vampira Lucila (personagem que já apareceu em outros contos da escritora). A trama, que mistura terror, humor e policial, envolve mulheres solitárias sendo assassinadas por um (suposto) vampiro.

Assim como Giulia Moon, Martha tem um senso de humor muito apurado, que transita entre o sutil, o refinado e o escrachado. Os diálogos dos personagens são deliciosos e naturais, assim como suas reações, sempre coerentes (ou ao menos, o mais coerentes que podem ser em livros de horror, rs). Os vampiros da história agem como vampiros provavelmente agiriam, com altivez e cientes de sua superioridade em relação aos seres humanos, o que permite que eles tratem a mortal (e muitas vezes indignada) Clara com divertida indulgência. Isso quando alguns não estão tentando sugar seu sangue, é claro.

A amizade entre Clara e a sensual Lucila (ahh, Lucila, Lucila) é o que mais chama a atenção, pois os motivos da vampira não são muito claros na maior parte da história, deixando sempre um suspense no ar, uma tensão sobre o que a personagem fará a seguir. Afinal, que tipo de amizade um predador pode oferecer para sua presa?

Esse livro é daqueles que se lê numa sentada só (são 168 páginas), e deixa com gosto de quero mais. A parte triste é que Martha já tem a continuação pronta, mas por esses mistérios misteriosos da vida real, está com dificuldade para publicar. E isso porque, com a chegada da série Crepúsculo, seus livros esgotados de vampiros voltaram a ser procurados! Se eu fosse editor, publicava na hora, mas, como não sou, fico aqui coçando a cabeça...

Concluindo, Relações de Sangue é um livro ágil e bem-humorado, que certamente agradará os fãs de vampiros e literatura fantástica em geral.

Links

Site sobre a personagem Lucila (com vários contos para vocês conferirem!)

Primeiro Capítulo de Relações de Sangue

Site da escritora

Blog da escritora

Resenha do livro

Abraços!

A DAMA MORCEGA, de Giulia Moon


Pois muito bem, vamos começar.

E vamos começar pra valer, falando do livro de uma das minhas escritoras favoritas: a paulistana Giulia Moon.

Giulia Moon é formada em Publicidade e Propaganda, e já foi diretora de arte, ilustradora, diretora de criação e sócia de agência de propaganda. Hoje em dia, além de trabalhar no setor de marketing de uma empresa educacional, também dá continuidade (ainda bem) à sua carreira como escritora de livros de terror, além de editar o Ficzine com a escritora Martha Argel e ser co-editora da Scarium Megazine.

Ela já tem três livros publicados, todos coletâneas de contos: Luar de Vampiros (Scortecci, 2003), Vampiros no Espelho e Outros Seres Obscuros (Landy, 2004) e A Dama Morcega (Landy, 2006). Atualmente, está prestes a lançar o livro Kaori - Perfume de Vampira (seu primeiro romance) pela Giz Editorial. Também participou da antologia Amor Vampiro, da mesma editora. Em resumo, ela está longe de ser uma iniciante no mundo editorial, e seus livros sempre são de qualidade impecável (tanto no material quanto, e principalmente, no conteúdo). Neste post, falarei rapidamente sobre A Dama Morcega.

Em A Dama Morcega, o terror passeia por todos os níveis possíveis, desde o horror mais sutil, até o medo mais explícito e gore, sendo que mesmo estes são escritos com elegância ímpar. Como a autora costuma dizer: "O terror deve ser antes de tudo um exercício de inteligência e sutileza", conselho ao qual ela sempre se atém. Sua escritra é delicada e de muito bom gosto, e mesmo quando alguém está sendo eviscerado ou algo do gênero, nunca descamba para o trash ou "porn-torture" (não que eu tenha algo contra os citados gêneros, rs). Os diálogos são sempre fluídos, seus personagens nacionais não possuem "brasileirismos" na fala, expressando-se com naturalidade. Isso tudo, claro, sem deixar o suspense e o medo de lado, sentimentos que Giulia Moon alcança facilmente.

Falemos um pouco das histórias presentes na obra: em Luna Errante, nos deparamos com uma visão original do mito dos lobisomens, de uma forma que é bem possível que você nunca tenha visto antes. Além de tudo, é uma história... de amor! Sim, licantropos e amor combinam, conforme você irá descobrir.

Júnior e seu Gnuko mostra a amizade entre um garotinho e uma criatura mortal, que pode ou não existir (não, não tem nada a ver com o filme A Mulher Invisível, rs). Ah, e a palavra "gravatinha" vai ficar marcada em sua memória de uma maneira muito diferente do que a habitual. :)

Na história O Vampiro e A Donzela, acompanhamos o desenrolar da vampirização de uma jovem, que resolve não permanecer sozinha em sua vida imortal. E quando uma vampira deseja alguma coisa, ela consegue, de uma forma terrível demais para os mortais que estiverem por perto.

Perdido! mostra a desesperadora busca de uma criança que se perdeu de sua excursão, num conto que certamente causará calafrios em qualquer um que, durante a infância, já tenha se perdido dos pais em um mercado, shopping ou lugares mais isolados (ou seja, quase todos nós).

Sobre O Paraíso - na minha opinião a melhor e mais emocionante história do livro - não quero falar nada. Qualquer informação iria estragar essa obra-prima, então simplesmente leia.

O Ser Obscuro é um conto que vai despertar a identificação de todos os ratos de sebo que existem por aí, além de servir como um alerta: cuidado com o que você leva para casa, pois alguns livros não contém apenas histórias em suas páginas empoeiradas...

O Herói e o Diabrete, inspirado em uma história lida em uma H.Q. antiga (mais uma informação conseguida em primeira mão, meus caros, rsrs), um cavaleiro segue em sua missão, acompanhado de um monstrinho que dá vontade de levar pra casa (ou não). Mas o melhor de tudo é o dragão, afinal, quem é que não gosta de histórias de dragões? Eles são fantásticos, ferozes e... o quê, você não gosta? Suma daqui! HAUHAAUAH.

Perigosa Ilusão resgata a deliciosa (em todos os sentidos, ahhhhh) vampira Maya e seu indefectível mordomo Stephen. O grande barato nas histórias desses personagens é a estranha e perigosa relação que os mantém unidos, sempre à beira de um fim trágico (ou não, dependendo da visão de cada um).

A Tia-Madrinha é um conto simples e curto, que na minha opinião poderia ir mais longe na crueldade. Falei isso para a escritora uma vez, que aceitou educadamente meu conselho furado, mas também me explicou que foi esse conto chamou a atenção do editor da Landy, que lhe propôs publicar por sua editora. Ou seja, é a história que abriu portas para a autora, além de ser a prova definitiva de que vocês não devem escutar tudo que eu falo, rsrsrs.

Em A Dama-Morcega, conto que dá título à obra, somos transportados para uma São Paulo do início do século XX, onde um asqueroso dono de circo mantém cativa a misteriosa (adiviiinha) Dama-Morcega! Uma mulher com a força de dez homens, velocidade de um tigre e a ferocidade de uma das minhas ex-namoradas! A autora provavelmente fez uma ampla pesquisa de época para chegar ao resultado final, porém a ambientação segue de maneira tão leve e agradável (como todo o livro, aliás), que quase chegamos a acreditar que tudo saiu de sua mente enquanto teclava em seu computador; é a segunda melhor história do livro (friamente falando, talvez seja a melhor história, embora eu goste mais de O Paraíso por questões pessoais), com personagens cativantes e situações ainda mais bem-desenvolvidas. É o maior conto do livro, mesmo assim ficamos com vontade de ler mais sobre aqueles personagens.

Por fim, o livro fecha com Pé-de-Moleque em Dezembro, onde um saci tem uma irreverente conversa com Jesus (!)... digo, não exatamente Jesus, mas enfim, o conto é uma crítica a valorização apenas daquilo que é estrangeiro, e como temos a tendência de estimar mais aquilo que veio do exterior (ou dos EUA, mais especificamente). Um erro grave, mas que podemos começar a corrigir lendo os autores nacionais, que, falando sério (sem demagogia, puxa-saquismo, nada), estão se saindo muito bem no gênero terror. Portanto, caso você ainda não tenha lido nada de um autor nacional, A Dama Morcega é um bom lugar para começar.

Links:

Blog da Escritora

Editora Landy


A Dama-Morcega

Resenha de Roberto Causo

Abraços!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Inauguração da Biblioteca Mal-Assombrada!


Boa noite, leitores! Sejam bem vindos à Biblioteca Mal-assombrada, um lugar sossegado onde os fãs do terror podem ler seus livrinhos em paz, sem nenhuma tia velha dizendo "mas como você pode gostar de ler essas coisas horríveis?".

Bem, se você está aqui, provavelmente também gosta de ler essas "coisas horríveis", então compartilhamos do mesmo gosto paradoxal pela sensação de medo. Mas não é hora de discutir essa estranha contradição, não quero assustá-los (?) assim, logo de cara. Venham, venham, vamos conhecer o recinto!

Nas estantes, vocês encontrarão os mais diversos títulos da literatura fantástica mundial, com autores internacionais dividindo espaço com escritores nacionais. Há alguns anos isso pareceria impensável, mas felizmente, a literatura brasileira cresceu (e está crescendo) nessa área tão obscura. Nessas mesas velhas e cheias de farpas (cuidado com as aranhas nas frestas), vocês poderão ler críticas, resenhas, curiosidades, tudo relacionado com a paixão deste humilde bibliotecário pelos livros (e histórias em quadrinhos) com temática sobrenatural, sejam de terror, horror, realismo fantástico e afins. Um ou outro livro de ficção científica ou fantasia poderá ser encontrado por acidente em nosso acervo, mas garanto que será meio raro. Nosso foco é a boa e velha literatura iniciada por Horace Walpole com O Castelo de Otranto (dizem) e continuada por Edgar Alan Poe, Lovecraft, Ray Bradbury, Stephen King e tantos outros.

Não sou crítico literário, sou apenas alguém que lê MUITO terror (até o momento, foram mais de 200 livros) e pensa que sabe o suficiente para opinar. É provável que tudo que postarei será baseado em minhas opiniões pessoais; porém, não pretendo impô-las, pois acredito na completa subjetividade da arte e do entretenimento (ninguém está certo ou errado por gostar ou deixar de gostar de alguma coisa). Mesmo assim, espero que este blog sirva como um guia informal para quem procura novos títulos de horror, e que minhas resenhas ou críticas ao menos sirvam para despertar a curiosidade sobre títulos que considero bons (e que desperte alguma desconfiança naqueles que considero péssimos, rsrs).

Tenho uma biblioteca pessoal bem guarnecida de livros do gênero, e pretendo comentar livros raros e obscuros, orientando assim meus colegas "ratos de sebos" a procurarem por eles nas estantes e pilhas poeirentas. Acho que estava faltando um espaço assim por aqui. Ao menos, eu não conheço muitos que sejam assim, lembro do site Boca do Inferno, que tem um bom espaço falando de livros, e o escritor Ademir Pascale recentemente inaugurou um site sobre literatura fantástica em geral. O assunto aqui será mais específico, e espero que este blog conquiste seu espaço. Vou me esforçar neste sentido, podem ter certeza!

De início, o blog estará meio vinculado ao concurso de contos de terror que estou organizando, com resenhas de alguns livros que estamos oferecendo como prêmio; no entanto, logo logo, a Biblioteca começará a seguir, sozinha, seu tortuoso caminho.

A Biblioteca Mal-assombrada talvez seja uma carta de amor aos livros de horror, gênero literário que sofre (injustamente) tanto preconceito. Como toda carta de amor, ela poderá soar meio brega ou até exagerada, e espero que vocês me perdoem. Agora, sentem aí, bem quietinhos, quem fizer barulho vai pro calabouço (brincadeira! Ou não...), puxem um livro e divirtam-se. Afinal, o que as nossas tias não entendem é que, para nós, o terror não é apenas arte, mas também o mais puro, sanguinário e delicioso entretenimento!

Boa leitura!